LINGUÍSTICA AFRICANA

Neste texto apresentamos, de forma sumária, o funcionamento da unidade curricular Linguística Africana, uma disciplina obrigatória para o curso de Estudos Africanos e opcional para outros cursos.

O objetivo principal desta unidade curricular consiste em explorar e aprofundar diversas facetas da paisagem linguística africana, numa perspetiva histórica e contemporânea. Para alcançar este objetivo, desenvolvemos um conjunto de tópicos, incluindo os que passamos a descrever de seguida.

Em primeiro lugar, abordamos um conjunto de tópicos sociolinguísticos relacionados com a diversidade linguística em África. Estima-se que neste continente sejam faladas cerca de duas mil línguas, isto é, cerca de 30% de todas as línguas faladas no mundo. Contudo, não é possível falar de línguas sem previamente discutir e clarificar conceitos básicos, porém complexos, como ‘língua’, ‘dialeto’, ‘variedade’ ou ‘crioulo’, e, en passant, desmontar algumas ideias pré-concebidas em torno destes termos. Será também necessário identificar critérios que nos ajudem a compreender o que se entende por ‘língua africana’. É consensual afirmar que línguas como o suaíli (Quénia, Tanzânia, etc.), o quimbundo (Angola) e o iorubá (Nigéria) são línguas africanas, mas será que o mesmo se pode dizer do crioulo cabo-verdiano, do africânder (África do Sul) ou do árabe (norte de África)?

Também se reveste de grande importância analisar a dinâmica que existe entre as diferentes línguas que coexistem num contexto multilíngue, aplicando uma multiplicidade de conceitos relacionados com o estatuto, a dimensão e o uso das línguas, como língua oficial, língua nacional, língua regional, língua maioritária ou minoritária, língua franca, língua materna e não materna. Nos países de língua oficial portuguesa em África, falam-se, ao todo, cerca de uma centena de outras línguas sem estatuto oficial. Destas, algumas conseguiram afirmaram como línguas francas nacionais ou regionais, como o crioulo na Guiné-Bissau ou o umbundo em Angola, ao passo que a vitalidade de muitas outras está cada vez mais ameaçada. Tal como as espécies biológicas, o número de línguas faladas no mundo, e também em África, está em declínio. E a sorte de ambas depende, em muitos casos, de decisões políticas. O que se tem feito e o que se pode fazer para gerir e promover a diversidade linguística em África?

Um outro aspeto que é desenvolvido nas aulas é a classificação genética ou histórica das línguas africanas. Línguas como o suaíli, o zulo (África do Sul), o iorubá (Nigéria) e o volofo (Senegal) apresentam entre si uma relação genética, o que significa que descendem historicamente de um tronco comum, uma determinada protolíngua, cujos descendentes constituem uma família linguística, que é conhecida, neste caso, como o níger-congo. Línguas como o árabe, o hauçá (Nigéria, Níger, etc.) e o amárico (Etiópia) também apresentam uma relação genética entre si, mas integram uma outra família linguística, a das línguas afro-asiáticas. Neste módulo aprofundamos a evolução das propostas de classificação desde o século XIX até aos nossos dias, os métodos científicos utilizados para estabelecer relações de parentesco entre línguas e os fatores que dificultam o sucesso classificatório no contexto africano.

Por fim, não se faria jus ao nome desta unidade curricular sem uma componente fundamental que é a caracterização linguística de línguas africanas, onde abordamos diversos aspetos tipológicos, como por exemplo a presença de cliques ou estalidos em certas línguas. Detemo-nos em particular na estrutura do grande grupo das línguas bantu, faladas na África central e austral, como o suaíli, o changana (Moçambique), o zulo e o umbundo (Angola), demonstrando que são surpreendentemente semelhantes entre si.

As aulas de Linguística Africana são teórico-práticas, com amplo espaço para debate e exercícios práticos sobre línguas específicas. No fim da unidade curricular espera-se que os estudantes tenham desenvolvido capacidade crítica para compreender como se formou e quais são as características e desafios do atual panorama linguístico africano e que sejam capazes de identificar e analisar traços linguísticos de línguas africanas trabalhadas nas aulas. Estas vertentes são normalmente avaliadas em dois testes teórico- práticos presenciais, sem prejuízo de outras formas de avaliação.

  • TJERK HAGEMEIJER

    Professor Auxiliar

  • CURSO

    Licenciatura (1.º ciclo)

  • ÁREA

    História

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